SHARIVAN – O ALUCINANTE SUSPENSE DO DETETIVE DO ESPAÇO!

Em 1983 a Toei estava, finalmente, de bem com a vida. Gavan havia sido um grande sucesso, ajudando a empresa a sair de uma crise financeira e criativa e, além disso, criando uma nova franquia: Os Metal Heroes. Nos últimos capítulos de Gavan, fomos introduzidos a Den Iga, um corajoso patrulheiro florestal, que lutou contra o monstro Buffalo Doubler da organização Makuu e quase perdeu sua vida. Salvo pela ciência da estrela Bird, ele retorna no último capítulo da série para ajudar Gavan, usando a armadura escarlate de Sharivan, a derrotar Don Hollor e sua trupe. Depois da derrota de Makuu, Gavan é promovido a Capitão e Sharivan, pelo seu heroísmo e habilidades, assume o cargo como defensor da Terra. Assim estrelando como o segundo metal hero em 1983, na Tv Asahi.
Uma ótima introdução para uma nova série, não? Mantendo as figuras carismáticas de Gavan (agora como seu superior imediato), Mimi e Comandante Kom e dando espaço para novos atores e roupagem. Tudo muito bom, tudo muito bem, mas fica aquela pergunta no ar: Como melhorar aquilo que já é um sucesso? Ou, ao menos, como manter o padrão e não deixar a peteca cair?

Hiroshi Watari interpretando Den Iga, ídolo supremo

E a resposta para isso foi tão fascinante quanto surpreendente: Flertar com o suspense e o terror!
Desde o início de Sharivan, ficou claro que Den Iga iria ter uma vida um pouco “mais puxada” que o seu antecessor. O grupo Mad (que nome mais sugestivo, por sinal) veio para enlouquecer a galera. E com enlouquecer eu digo alucinar mesmo, muitos capítulos da série pegaram forte na veia do suspense e terror, principalmente se considerarmos que é um programa originalmente para um público infantil.


O capítulo inicial já mostra para o que a série veio: com direito a cenas de destruição, terremoto e desespero, cenas de terror psicológico. E logo no capítulo 2 já somos presenteados com uma cidade envolta pelo mal, crianças sendo abduzidas por “forças espectrais” e levadas, flutuando no ar, à força de suas casas! No maior estilo de “The Wicker Man” de 1973, Den Iga parte rumo à tal cidade para a investigação, encontrando cenas bizarras, com direito a freiras demoníacas tocando piano enquanto pessoas de branco e com máscara de animais dançam em volta (só faltou um boneco de palha pegando fogo com Sharivan dentro). Tudo para deixar a garotada nipônica de cabelo em pé! (e colada na telinha da tv, lógico!).
Óbvio que Sharivan sempre resolvia o problema até o final do episódio e óbvio também que haviam personagens de apoio para aliviar o clima pesado: Mimi deu lugar para Lili, a faz tudo do Sharivan que, como de costume, tem um crush pelo rapaz. Kojiro Oyama, o atrapalhado caçador de óvnis, segue na série após seu sucesso em Gavan. Há até um pequeno núcleo familiar, onde Iga trabalha com motos, no estilo que Takeshi fazia na série anterior no clube de equitação Avalon. Isso ajudava a aliviar o clima e permitia aos produtores desenvolver os momentos mais densos da série.
Maoh Saiki, o líder do grupo Mad, era sempre mostrado de forma impiedosa e sombria, uma versão ainda mais tenebrosa de Don Hollor. Mexia apenas os braços, e, quando usava seus poderes, a boca abria e os olhos se iluminavam, enquanto se ouvia um grito estridente e bolas de plástico brilhavam e giravam ao seu redor! Suas táticas, com o apoio da maligna doutora Porter e sua máquina do “mundo da Alucinação” (a versão Mad do aparelho do Retrocesso Makuu), seguiam bem mais aterrorizantes que a do seu antecessor…

Senão vejamos: No capítulo 7 tivemos uma homenagem ao “Exorcista” de 1973: uma jovem foi possuída por poderes malignos e nisso passou a voar dentro do quarto, soltar chamas, girar e desprender a cabeça em direção ao nosso herói. Já no capítulo 9 tivemos nosso momento “Poltergeist”, filme de 1982, com “A Casa Mal Assombrada”. No episódio 22, a rainha do Tokusatsu, a saudosa Machiko Soga, (a Aracnin Morgana de Jiraya e Bruxa Bandora, de Zyuranger), foi chamada para interpretar um monstro que levava as pessoas ao desespero, através da cartomancia, atacando ídolos do esporte e da literatura, tentando induzi-los ao suicídio (uma jovem tenista tenta se jogar do alto de um prédio, uma nadadora tenta se suicidar numa linha de trem, um escritor de sucesso tenta se enforcar, etc, etc). Não satisfeitos com tudo isso, no capítulo 34, “Um convite ao mundo espiritual”, somos apresentados ao sádico e maquiavélico mago Leider, que dá um trabalho danado para Sharivan, com alucinações de morte e sofrimento, Levando a Den Iga a se ver morto, num caixão, flutuando no meio de um pântano, ou ver o seu corpo inerte, crucificado, transformando-se num esqueleto para lutar contra ele… Tivemos até mesmo um “tributo”, ao famoso caso paranormal da “Boneca Anabelle” da década de 1970, no 39o episódio, “A Boneca Amaldiçoada”. Essa boneca fazia de tudo: chorava, brincava, flutuava, cuspia fogo e levava as pessoas (no caso, sua dona, interpretada pela Mai Ooishi, a Change Phoenix), a loucura!

Gamagon dando o ar de sua graça. Literalmente

E mesmo no meio de tanto terror, acabava que havia espaço para o humor involuntário nas hordas do mal. E nisso não temos como esquecer do cruzamento da cabeleira de Wolverine com o charme do professor Girafales. Dono de um bigode voluptuoso que faria Niguel Mansel, Golimaar e Cesar Romero corarem de vergonha! O “poderoso” general Gailer! (ao menos lhe deram um fim honrado, lutando contra Sharivan). E o que dizer do cruzamento de Caco, o sapo dos Muppets, com Jaba the Hutt? O impiedoso Grande Rei Gamagon! (Que na verdade não passava de uma grande boneco inflável que soltava uma “língua” que mais parecia um fiapo de celofane vermelho pela boca para devorar seus inimigos!).
Tirando esses pequenos momentos de humor involuntário, a série Sharivan é um avanço em relação ao seu antecessor em diversos pontos, os efeitos são melhores, o enredo é mais bem trabalhado, criando uma mitologia para Den Iga: ele, junto com outros habitantes de sua ilha natal, seriam descendentes do planeta Iga, destruído há 2000 atrás pelo Mad. Iga seria o guerreiro prometido, que encontraria a espada sagrada de Leão, retiraria da pedra onde estava fincada e encontraria o poderoso cristal Iga, o Artefato de imenso poder que poderia ajudar seu povo a voltar para casa e reconstruir seu lar. Ou seja, elementos Arthurianos e Mosaicos introduzidos numa série Tokusatsu.

Visualmente Sharivan também foi bem trabalhado. Sua armadura gerada pelo “raio solar” através da nave Grand Bus é um a releitura da armadura prateada de Gavan, só que agora em tom escarlate. Sua espada laser, seu golpe fatal com um sol ao fundo é deveras bonito. Sua moto (Sharian) e seu tanque (Sharinger) também. O único senão seria para a forma robótica do Gran Bus: Parece que o mesmo está carregando um tabuleiro de cigarro gigante! Além de ter pernas muito finas, ficando inviável ter um centro de gravidade funcional! (Ainda bem que ele sempre se transformava flutuando! Acabaria caindo ao tocar o solo daquele jeito!)
Não tem como não falar de Sharivan sem citar seus capítulos finais, que dão o self service que todo metal fã quer: aparições de Mimi (sequestrada e que quase casa com o Gailer!), comandante Kom, Mareen (auxiliar de Kom) e, é claro, dele: Gavan! No último capítulo Gavan se une a Sharivan para destruir Maoh Saiki. Eles descobrem que o líder do Mad tem dois corpos, e só com a destruição de ambos poderiam vencer! Com a ajuda providencial do Cristal Iga e do santo protetor dos Iga, eles vencem e salvam a Terra.
No final Iga junta os descendentes do Gran Bus e parte com os mesmos em direção ao planeta Iga, para começar a sua reconstrução. O lado triste da história fica para Lili, que queria muito ir com sua paixão, mas acabou na friendzone no final e teve que se contentar em voltar para a Estrela Bird (sacanagem dos roteiristas…).

No Japão Sharivan fez tudo o que uma boa sequência poderia fazer por uma franquia. Deu ótimos índices de audiência, ajudou a aumentar os fãs e a sacramentar a mitologia dos policiais do espaço. Já no Brasil Sharivan fez apenas um sucesso razoável, tendo estrelado na Tv Bandeirantes, em 1990, no bloco da TV Criança, onde também passavam Machine Man, Google V e Metalder. Apesar disso foi, da trilogia dos policiais do espaço, a que mais repercutiu em nosso país.

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Pai Fader

Pai fader - Um homem de bem com a vida, cheio de espiritualidade, com uma visão holística sobre esse misterioso mundo pop

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