Dexter: New Blood – Conclusão aquém do personagem!

Hoje destrincharemos o mais novo revival do momento, Dexter: New Blood. O lançamento da Paramount+ promete encerrar a carreira do serial killer mais amado do mundo com algum estilo após a fatídica série anterior.

É meus amigos aqui estamos depois de mais de 10 anos da conclusão da já clássica série Dexter para comentarmos essa tentativa de Clyde Phillips de trazer alguma dignidade e um final decente para o personagem.

Afinal o personagem recebeu um tratamento bem aquém do que merecia com aquele final bisonho de Dexter “o Lenhador”.

Um renascer para Dexter

Clyde Phillips foi o produtor e escritor das 3 primeiras temporadas da série original, então já conhecia muito bem o universo do personagem e nunca gostou da forma como encerraram Dexter, e durante anos estudou e escreveu um roteiro para consertar isso e com isso foi lançado Dexter: New Blood no final do ano passado e concluído em janeiro de 2022.

Dexter: New Blood foi criado para apagarmos o Dexter Lenhador?
Dexter: New Blood foi criado para apagarmos o Dexter Lenhador?

Primeiro de tudo, este recomeço foi literal, o personagem foi tirado da ensolarada e quente Miami e levado para a fria e isolada cidade fictícia de Iron Lake. Onde Dexter trabalha vendendo armas de caça e tem uma vidinha pacata e mantendo o controle de seu passageiro sombrio com apoio de sua consciência que agora está personificada na sua irmã Debby.

Deb como consciência de Dexter

Uma das grandes sacadas desse revival é substituir a figura do pai amoroso que sempre apoiou Dexter em sua consciência, e deixava o personagem alerta mais em situação confortável. Já Debby confronta sempre que possível com um humor ácido e revoltado demonstrando que apesar do semblante pacífico o serial killer tem um grande sentimento dentro dele que o corrói com culpa e remorso

A presença de Jennifer Carpenter na produção deu aquela sensação de continuidade a trama original, de que a personagem não foi esquecida e que apesar das merdas que os escritores a fizeram passar ao menos ela está agora sendo lembrada com alguma honra.

Pai e filho

É inconcebível Dexter ter ficado tantos anos sem procurar seu filho Harrison. Logo ele, que sempre demonstrou tanto carinho e amor para com seu rebento desde que ele nasceu. E mesmo que carregasse culpa pela morte de Debby e de tudo que aconteceu ao seu redor, ele não podia deixar o garoto com a Hannah sem saber nenhuma novidade durantes esse tempo todo.

Um relacionamento conturbado que ganha contornos bem interessantes
Um relacionamento conturbado que ganha contornos bem interessantes

E meio que do nada aparece Harrison na porta de Dexter querendo conhecer o pai que já não lembrava mais.

Admito que a introdução de um Harrison adolescente a trama não inspirava muita coisa boa, afinal era a desculpa perfeita para a produção introduzir todos aqueles dramas juvenis e banais que é bem similar as produções da CW. Porém este sentimento cessou quando o filho de Dexter demonstrou ter herdado a compulsão do pai.

Harrison muito bem interpretado por Jack Alcott

Jack Alcott como Harrison
Jack Alcott como Harrison

A relação de Dexter com Harrison foi tão bem construída e tão gradual que deu gosto quando o pai se abriu de verdade e contou tudo para o filho. Isso os fez se conectarem de uma maneira única. Um completava o outro.

E se lembrarmos direitinho nas temporadas anteriores, Dexter sempre buscou alguém que entendesse sua sede de sangue e o amasse como ele é. Porém sempre dava merda quando ele abria esse lado oculto para as pessoas, vide Layla, Doakes, Trinity e Deb.

Então a produção foi muito honesta em ter criado a narrativa de Dexter: New Blood em cima da relação pai e filho. Pontos para Philips e por entender tão bem do personagem.

Vilão da temporada

Dexter: New Blood nos presenteou com Clancy Brown vivendo o vilão e psicopata de Iron Lake, Kurt Caldwell. O eterno irmão Justin de “Carnivale” dar o ar da graça e faz um antagonista que rivaliza com o finado Trinity.

O ótimo Clancy Brown abrilhanta a série
O ótimo Clancy Brown abrilhanta a série

Claro que Kurt não é tão bom quanto o assassino da Trindade mas ele impõe um respeito “fdp”. O cara além de matar ele mumifica e expõe as mulheres como bonecas nas caixas, tem como ser mais bizarro e no nível que Dexter adora matar?

Quando Dexter passa pelo corredor de caixões das vitimas de Kurt, rola até um frio na espinha.

Mas como todo interiorano, Kurt tem suas limitações intelectuais e no final só mostra que sobreviveu porque a policia de Iron Lake era muito ruim e despreparada. Por falar nisso. Lembra o próximo ponto.

A super detetive Angela e seu cheat na série

De policial de cidade do interior a super detetive em 5 segundos
De policial de cidade do interior a super detetive em 5 segundos

O termo cheat é comumente utilizado por jogadores de games que utilizam trapaças como hacks que possibilitem facilidades e até mesmo ganhos nas partidas. Angela é o cheat de New Blood.

Ela veio do nada e chegou ao tudo em poucos episódios. Uma única ida a uma conferência, que por tremenda coincidência do destino tinha o Tenente Batista como palestrante fez ela enxergar padrões onde não havia. Como em um passe de mágica.

Só do Batista ter falado no Harrison ela já descobriu que Jim Lindsay era na verdade Dexter Morgan. E daí por diante fica cada vez mais forçado. Tão forçado que e cheguei a comentar com minha esposa, “aaaah não pelo amor de Deus, sério? Ela é vidente? Certamente tem poderes de deuses indígenas envolvidos nessa trapaça”.

Um dos pontos fracos do revival

E aé vem o calcanhar de Aquiles da série, ela associar que a quetamina, substância que Dexter aplicava nas vitimas na serie original, era a mesma que o serial killer aplicou nos traficantes de drogas da cidade. Um absurdo, até mesmo porque nunca foi falado desse tópico em específico na série e nem o Agente Frank Lundy, que era o especialista em serial killer, coletou essas substâncias nas vítimas achadas no mar no antigo show.

Ela descobrir que Dexter era um serial killer foi um dos maiores absurdos da série. Parece que eles ligaram o nitro no carro e passaram a correr contra o tempo para que Dexter ficasse sem opções de fuga. Só isso explica o plot apressado e sem desenvolvimento.

Angela que foi namorada de Dexter por anos, nunca desconfiou dele e da noite para o dia, do nada prendeu, ele por um monte de provas circunstancias que nunca condenariam Dexter.

Monstro abatido e agora?

Quando eu vi que o monstro da temporada foi revelado e morto no episódio 9 e ainda tinha o 10 eu desconfiei que a trama iria acelerar mais ainda para tentar justificar um Dexter preso e não deu outra. A policial Angela com base em uma carta anônima, escrita a mão por Kurt Caldwell, acusou Dexter de assassinar Matt Caldwell e como prova anexou um dos parafusos de titânio.

Jogo de gato e rato de Dexter com Kurt envolvendo Harrison
Jogo de gato e rato de Dexter com Kurt envolvendo Harrison

Explico esse imbróglio: a primeira morte de Dexter em 10 anos foi um ato impulsivo que resultou na morte do filho de Kurt. E para se livrar do corpo ele o incinera. O que Morgan não poderia suspeitar, até porque não o investigou a fundo, era que o filho do assassino serial de Iron Lake tinha parafusos de titânio nos ossos por causa de um acidente de lancha.

Kurt então em determinado momento manda um parafuso para Dexter e guarda o outro para que ele pudesse ter um trunfo, porém quando tudo desmorona e descobrem o mausoléu com as garotas mumificadas, o vilão foge com tudo mas fecha uma série de pontas soltas, incinera a casa de Dexter e manda a carta para Angela.

O castelo de cartas começa a desabar rápido demais, o que lembrou do caso Trinity, que mesmo após morto Dexter precisou lidar com as consequências. O mesmo aconteceu com Kurt.

Desespero incoerente de Dexter

No frigir dos ovos, Angela acusa Dexter de ser o assassino de Matt com base em um monte de provas circunstanciais e o coloca em interrogatório para responder algumas perguntas.

Morgan desmonta toda a investigação da policial com apenas a bola e velha lógica e verdade seja dita, Angela não tinha prova alguma, somente um monte de “achismo”. Até mesmo a insinuação de Dexter ser o “Bay Harbor Butcher” de Miami não o afetou porque ela só apresentou os padrões de picadas no pescoço, o que é ridicularmente discutível num processo investigativo sério.

A necessidade de quererem imitar um final foda como Breaking Bad queimou toda a temporada
A necessidade de quererem imitar um final foda como Breaking Bad queimou toda a temporada

E do nada, faltando poucos minutos para acabar o último episódio, dá a louca em Dexter e ele mata um inocente para poder fugir da prisão e poder encontrar com seu filho. Isso que soa absurdo, pois, o personagem sabia que Angela não tinha nada e que ele seria libertado em pouco tempo. Dexter tinha consciência de que tudo ficaria bem se apenas aguardasse e seguisse o código do Harry.

A incoerência do personagem foi tão absurda que isso foi perceptível para qualquer um que acompanhou a nova série.

Final incoerente e aquém de seu personagem

E vamos para mais um final abaixo do que Dexter merece.

Nota-se que os produtores e escritores da série buscaram dar um final mais digno para o serial killer favorito da galera, porém com todos os plots apressados isso deixou mais a desejar do que qualquer outra coisa e estragou por completo a temporada.

A temporada vinha muito bem. Uma trama coesa, evolutiva, bem trabalhada. E se desconsiderarmos o plot forçado de Angela melhora mais ainda, porque os laços forjados por Dexter e Harrison foram muito bem projetados e amadurecidos, uma verdadeira cereja no topo do bolo.

Deu prazer acompanhar a trajetória caótica da trama e ver Michael C. Hall dar vida um Dexter inseguro quando Harrison brotou em sua vida. E vê-lo tentar se abrir verdadeiramente para o filho mesmo que seu consciente grite, literalmente, para que não o fizesse foi uma grata surpresa.

Aquela sensação no episódio 9 que Harrison não suportaria o segredo do pai e que a qualquer momento ele entregaria Dexter era palpável para mim. E você percebe que a trama é boa, quando cria esse tipo de sentimento.

Você sabe que Dexter merece morrer, e eu não tenho nada contra o personagem principal morrer para pagar pelos crimes, porém eu tenho contra um plot mal e porcamente desenvolvido. Na verdade me pareceu uma puta de uma preguiça dos escritores forçarem tanto para no final Harrison se ver em um momento onde precisa matar seu pai.

Pareceu que os roteiristas quiseram dar um ar Shakespeariano de que o filho mata o pai e possa assim libertar o pai do grande mal que era o passageiro sombrio. Só que esse final obtuso nos privou de algo que poderia muito bem ser trabalhado em uma 2ª temporada.

Sabem o que dizem sobre a pressa ser a inimiga da perfeição? Cabe muito bem aqui nesse revival de Dexter.

Um final melhor? Dexter merecia

Ok, os roteiristas queriam matar o Dexter e dar um final marcante alá “Breaking Bad”? Nada contra, porém poderia ser feito de uma forma muito melhor numa 2ª temporada de Dexter: New Blood.

Você já imaginou os diálogos do Batista com o Dexter preso? As pérolas que poderiam rolar? Os “pensamentos/comentários” ácidos em off de Michael C. Hall?

Da forma como estava desenvolvido Dexter nunca seria preso. Não com aquele monte de provas circunstanciais e superficiais. Logo, imagina como seria se Dexter fosse solto e Angela fizesse uma aliança com Batista para investigar a fundo o ex-forense da polícia de Miami?

O quão dramático seria se a verdade viesse à tona para toda a comunidade de Iron Lake e de Miami? E o nome de Doakes sendo literalmente limpo das acusações de ser o Bay Harbor Butcher?

Spin-off de Harrison? Não obrigado

No final das contas Dexter foi morto pelo filho, o que deixou mais traumas na cabeça do pobre Harrison, que está agora de andarilho pelo mundo com alguns dólares dado pela Angela. Um garoto mais quebrado ainda e com um passageiro sombrio para gerenciar. E o Batista que está chegando em Iron Lake? Nunca saberemos como teria sido o encontro com Dexter.

Mano na boa, quem se interessaria em ver um spin-off do Harrison? Ninguém, infelizmente.
Mano na boa, quem se interessaria em ver um spin-off do Harrison? Ninguém, infelizmente.

São essas coisas que desanimam, quando os produtores aceleram as coisas apenas para soar geniais e criam expectativas que não se cumprem. No final Dexter não tem a conclusão que merece e se duvidar o estúdio ainda cria um spin-off sem sentido do Harrison em Los Angeles.

Sério gente, quem vai assistir isso? E se ainda colocarem o Dexter de consciência do Harrison, com este seguindo meio código do pai para mim acabou, eu que não vou acompanhar.

Jack Alcott é um ótimo ator e mostrou isso com uma interpretação segura e surpreendentemente boa em Dexter: New Blood, entretanto não tem o que é preciso para segurar uma temporada inteira. Isso na minha humilde opinião.

Apesar da decepção de mais um final groselha, posso afirmar que a série tem mais pontos positivos do que negativos. Só que sua conclusão equivocada e apressada deixa um sabor amargo na boca e isso é péssimo.

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Puyol Miranda

Uma simples testemunha da humanidade, que presencia todos os dias as grandes maravilhas de Deus. Além de presenciar o mais lindo momento de uma etapa de crescimento, me tornar pai. Sou analista de ti, leitor de quadrinhos, decenauta convicto e amante da tecnologia.

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