COBRA KAI E SUA 1a TEMPORADA SUPER TENSA
Olá amigo popnauta, tudo bem? Vamos continuar de onde paramos nossa analise da 1a temporada de Cobra Kai, a super-série do canal de streaming do Youtube.
A temporada inicia com Johnny Lawrence revirando as magoas do passado e usando isso para se machucar com auto-piedade e muita bebida. É desse ponto que o show inicia.
Durante a película de 1984, vemos sempre o lado do jovem Larusso e o quanto Johnny era mal com ele em todos os momentos. Se passaram 34 anos após os eventos do 1º filme e vemos o personagem de Lawrence protagonizando a série e mostrando que todas as decisões equivocadas que tomou na vida, o marginalizaram ao completo fracasso. Uma decisão que a princípio não me agradou. Pensei comigo mesmo “que tipo de abordagem fariam com esse tipo de personagem?”, “será que romantizariam o sentimento de bandido bonzinho?” ou qualquer ideia desse tipo, para que possamos criar empatia com uma pessoa de caráter duvidoso. Mas ledo engano, meu amigo. Vemos Lawrence absolutamente quebrado. Um sujeito que parece que vive nos anos 80, assistindo dezenas de vezes Águias de Aço (não o critíco Johnny, baita filme, SIM SENHOR), ouvindo rock farofa. E lembra o que falei sobre os filmes dessa década serem sempre sobre superação? Então sente em sua melhor poltrona, que você assistirá um personagem que sofreu as amarguras da vida, por causa de suas próprias questionáveis decisões, mas pegará tudo isso e poder controlar o destino de sua vida e fazer as boas escolhas. Você assistirá um personagem evoluir de maneira tão bem-feita que irar torcer para ele ser bem-sucedido em sua empreitada com o retorno do Cobra Kai. Mas isso não o faz um vilão, pelo contrário! Somente um ser humano que errou demais, por não ter tido uma base familiar forte e que o ensinasse os valores de honra e misericórdia.
Aliás, a melhor palavra que podemos resumir sobre Johnny nessa temporada é: redenção. É um personagem que busca a redenção através do karatê. Um fato que foi legal terem abordado é que em sua trajetória de vida, ele não teve um pai, e mesmo criado por um padrasto rico, ele não tinha o que um verdadeiro pai tinha a oferecer: carinho e amor. E com isso ele não teve uma figura exemplar de homem de verdade, e quando sua mãe veio a falecer e em paralelo sua namorada ia dar à luz ao seu filho, ele não soube lidar com da melhor maneira essa situação. O que ele faz? Fugiu da responsabilidade e se entrega a bebida. Curiosamente enquanto Johnny falhava miseravelmente em todas as áreas de sua vida, seja como profissional ou pessoal, seu maior rival de escola, sim me refiro a Daniel Larusso, se tornaria um bem-sucedido vendedor de carros de luxo, um pai e marido exemplares. Uma completa antítese de Lawrence. Será que os ensinamentos de Miyagi e Kreese fizeram tanta diferença assim na vida de cada um? Aconselho a assistir pra apurar.
E o que move Johnny mesmo após tantas derrotas? A luz no fim do túnel pra iluminar o caminho de nosso anti-herói? Seu vizinho Miguel. Ele o defende do ataque de valentões em frente ao minimercado e assim cria uma espécie de elo. Veja bem, aquele que infligia a vida dos fracos, foi o que se levantou pra defendê-los e ainda vai ensinar a se defenderem. Se isso não é um baita plot a ser desenvolvido eu não sei o que mais é. Apesar de um início relutante, Johnny sente as pancadas da vida e sabe onde errou. E sabe que seu maior erro foi não estar presente na vida de seu filho, Robby. E Miguel nisso tudo? Miguel é um equatoriano que foi para os Estados Unidos com sua avó e sua mãe. Não foi criado pelo pai. Então temos um sujeito que quer desesperadamente consertar os erros do passado e ser uma pessoa melhor, e um garoto com a necessidade de uma figura paterna que o ajude e aconselhasse. Some isso tudo com o belo discurso de Louis Gosset Jr em Águias de Aço na velha televisão de tubo, que em meio a bebedeira do antigo lutador, vê naquilo oportunidade de usar o seu verdadeiro talento para poder vencer. A resposta estava mais que obvia, abrir seu dojo de karatê. Não é? Poderia ter colocado qualquer nome, mas escolheu a nomenclatura e premissas do antigo dojo de seu sensei Kreese. Está aí o estopim para explodir todas as estruturas da vida de seu rival Larusso, que vê no retorno do Cobra Kai, a vinda do apocalipse para o Valley.
Engraçado em analisar as vidas de Daniel Larusso e Johnny Lawrence, como consequências diretas sobre o prisma de seus antigos senseis. Mesmo um ensinando a ser durão para que a vida não o abatesse e ele pudesse responder com socos as amarguras da vida, o outro que foi ensinado sobre piedade, misericórdia e paciência é o mais bem-sucedido. Independente de sermos dicotômicos em relação a bondade e maldade, e interpretarmos isso como se o universo socasse com força a vida do aluno do Cobra Kai. Podemos ver que Daniel não é esse santo que o filme original tenta transparecer. Por exemplo ele tenta boicotar a nova Cobra Kai de todas as formas possíveis. Seja forçando o aumento do aluguel por maneiras bem escusas, ou banindo eternamente o dojo do clássico campeonato de karatê do Valley. Ali vemos que além de Johnny levar muito a sério a rivalidade, o oposto também acontece. Em parte, isso reflete muito sobre problemas passados, inseguranças de cada um. E isso independente de ser bem-sucedido ou não.
Tirando todo esse panorama, encontramos uma série equilibrada que nos mostra não o bondoso e santo Daniel, ou o maligno Cobra Kai, mas o cinza de Johnny Lawrence. E nos identificamos e torcemos pelo crescimento do personagem. Vibramos com as pequenas vitórias na vida dele: treinamento de Miguel, o pagamento da dívida ao padrasto (que teve um simbolismo muito grande, ao se libertar de uma figura que não dava nada além de dinheiro, quando este queria só alguém pra conversar), ele arrumar o apartamento dele e mobiliar, e o sucesso posterior como professor. E o roteiro é bem maldoso (felizmente rs), pois, brinca com a possibilidade de reconciliação com Larusso em 2 vezes no mínimo. E são episódios muito bons. Uma das amostras de maturidade do personagem, foi a carta que ele escreve para o filho. Maior declaração que um pai poderia fazer para se reconciliar com o filho, mas sempre acontece algo que o atrapalha.
Tirando Larusso e Lawrence, o elenco jovem da série é um espetáculo a parte. E a equipe de direção sabe disso, e foca sempre no rosto, mostrando que não são apenas rostos bonitos e sim ótimos e promissores atores. A transformação que os moleques passam de jovens tímidos, e a confiança que adquirem é visível e a direção aproveita pra mostrar. Miguel foi apenas o primeiro, você assiste o primeiro episódio e pensa “que cara fraco, não tem jeito” e durante os episódios Xolo Maridueña mostra do que é capaz. Jacob Bertrand e seu Hawk, que de nerd retraído, medroso e chorão que encontra no karatê ensinado por Lawrence as ferramentas para se libertar de uma casca vazia (ou como Johnny diz, trocar a pele como a cobra) e soltar todo o seu potencial. Aliás, Aisha a amiga de Samantha que sofre um violento bullying é da turma Cobra Kai com orgulho. E que evolução, meus amigos. QUE EVOLUÇÃO. Incríveis mudanças renovadoras acontecem com os jovens da série que integram a primeira turma do Cobra Kai. E simplesmente dá gosto de assistir.
Um parágrafo, eu preciso pra falar sobre os draminhas de relacionamento jovens na série (se tinha no filme de 84, porque não teria na série, não é mesmo?). Se temos o co-protagonista perfeito na figura de Miguel, temos coadjuvantes muito bons. São esses Robby Keene de Tanner Buchanan, que faz o filho de Johnny e Samatha Larusso de Mary Mouser. Vamos por partes, porque gostei bastante do desenvolvimento deles, mais com certas ressalvas. Primeiro que Miguel apesar de ser um bom garoto, e estar no Cobra Kai, criava a antítese perfeita pra expor a hipocrisia de Daniel Larusso, que tinha um claro preconceito com o dojo, por causa de seu passado. E aí a história coloca Miguel namorando com Samantha, foi uma ideia excepcional. O conflito na medida certa. Samantha via que Miguel além de um bom rapaz, tinha uma boa família e uma ótima base. Mas por ciúmes de Robby, que já estava interessado na filha de Larusso, Miguel se perdeu e a menina termina com ele. Bem injusto pra se dizer, pois, pra começo de conversa ela sequer queria apresentar o namorado para o pai, por saber que ele não suportaria a ideia de sua filha namorando um Cobra Kai. Em contrapartida, Robby, que é o filho desajustado e abandonado pelo pai e negligenciado pela mãe, encontra conforto, carinho e amor com a família Larusso. E começa a ser treinado por Daniel no método Miyagi. O que se vê no treinamento deste, é quase que uma cópia do que foi no 1º filme, apenas adaptado para uma rotina de trabalho numa concessionaria de carros. Após ter ganhando a confiança e se tornado o pupilo perfeito, Robby passou a ter acesso completo à casa de Samantha e tinha toda a atenção e carinho da família deles e, o mais importante, a confiança de Daniel. Eu praticamente estava contando as horas pra o momento que vilanizariam Miguel e santificariam Robby. O que seria péssimo para a narrativa e o andamento da história. E de certa maneira tentam transformar o filho de Lawrence num prodígio fantástico ao aplicar um golpe sem nunca ter treinado, e que Daniel só falou a teoria, informando que apenas Sr. Miyagi sabia aplicar tal golpe.
Todavia o torneio de Karatê do Valley precisa de comentários. O término do namoro de Miguel o deixa seco, duro e muito determinado. Quase que obstinado pela vitória, afinal se não há sorte no amor, que tenha sucesso na luta não é mesmo? Miguel, Hawk e Robby se destacam e chegam nas finais. Sobrando pela mais que obvia intenção da final ser Miguel x Robby. O roteiro tenta a todo custo mostrar que Robby é um oponente a altura de Miguel, mas não consegue. Mesmo forçando a barra ao mostrar o garoto aplicando o golpe de chute duplo com um braço (o misterioso golpe que Daniel NUNCA conseguiu aplicar, mesmo se esforçando a anos, diga-se de passagem), conhecemos a frieza de Miguel em explorar uma fraqueza de Robby e se tornar campeão. E não, ele não foi sujo e nem vilão, explorou uma fraqueza como qualquer grande lutador pôde observar. Miguel foi o campeão de forma justa e digna. Até mesmo se pensarmos que o puxão que ele deu no braço de Robby não foi desleal, pois, ele foi punido com advertência. Enfim não se trata de uma passada de pano, mas mostrou uma baita evolução do personagem e mostrando que é um lutador muito promissor.
Uma observação foi a cara de Johnny ao ver que para ganhar o campeonato, ele precisava vencer o filho, foi comovente. Ele sabia que não havia meio termo. Na prática seus 2 filhos estavam no tatame e não tinha como ele reagir de outra forma, se não de forma apática. Mesmo com o choro do Larusso, a série caminha a passos largos para uma 2ª temporada com muita rivalidade entre Daniel e Johnny. E o final com o retorno de John Kreese ao Cobra Kai, tem como desenvolver muito a série em certas nuances. Como por exemplo: pode expor uma diferença grossa do Cobra Kai antigo com o novo. E como Kreese se encaixará nessa trama. Para mim, se der espaço pra ele vai contaminar completamente o ambiente e tornando ao seu favor. Fazendo ate mesmo com que Johnny tenha seu amadurecimento afetado.
O desenvolvimento dos personagens é tão bom que eu maratonei freneticamente os 10 episódios. E se você pensar que cada um tem apenas 30 minutos, vai notar todo um cuidado e zelo para com todo os personagens, sendo os antigos ou os novos. Podemos apreciar um roteiro enxuto e bem trabalhado.
Lembra o que falei lá em cima sobre não terem entendido de verdade o que significou/simbolizou Karatê Kid para uma geração? E fizeram um filme triste, apático e sem personalidade nenhuma? Podemos AFIRMAR (com letras maiúsculas mesmo) que Will Smith concorda com isso. Pois, ele foi o produtor do fatídico filme estrelado pelo seu filho e produziu essa série pro canal streaming do Youtube. Mostra que ele entendeu o recado e que esse grande filme não carecia de um remake, mas como Rocky Balboa, Rambo, ele carecia de ser adaptado e introduzido para a nova geração com a sabedoria com que fizeram com Creed (os filmes derivados de Rocky). Aqueles que achavam que karatê não era crível em lutas, morderam a língua com toda a certeza, pois, as lutas na escola são a cereja no topo do bolo. Alias, uma vibe tão anos 80 que essa série vive e respira e merece ser reverenciada como um dos maiores revivais da história. Cobra Kai, mostra todo o potencial desperdiçado que poderia ser desenvolvido no cinema. Quase não sentimos falta da antológica música You’re The Best Around, pois, está embalada com uma bela trilha sonora com base na boa fase do rock anos 80.
Enfim, se ainda não assistiu dê uma chance a esta bela seria, que tem tudo pra conquistar tantos os saudosos dos anos 80, quanto a nova geração.
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